quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Abordagem Fisioterapêutica no Torcicolo Congênito

Olá Pessoal! Estou de volta para falar um pouco sobre o Torcicolo Congêntio. Antes porém, quero agradecer a todos que usam este blog como ferramenta de pesquisa e a todos que compartilham o Blog através do facebook, muito obrigado pela preferência. Bom, sem mais delongas vamos ao assunto!

O Torcicolo Congênito se caracteriza pela assimetria da posição da cabeça em relação a linha média do corpo, que vem acompanhada de fibrose do músculo esternocleidomastóideo, que pode ser encontrado em lactentes ou na criança de pouca idade.

O RN com Torcicolo mantém a cabeça fletida para um lado e em rotação para o lado oposto.



No RN normal, a rotação passiva da cabeça de um lado a outro chega a 180º, ao passo que na criança com torcicolo a rotação para o lado oposto frequentemente não ultrapassa a linha mediana.
Em alguns casos observa-se a presença de um nódulo sob a forma de uma tumoração ovóide, localizada no ventre do músculo, que aparece entre a 2ª ou 3ª semana de vida e desaparece antes dos 6 meses.
Em alguns casos pode evoluir para a plagiocefalia (transtorno caracterizado por uma distorsão assimétrica (aplastamento lateral) do crânio).

Etiologia:- A hipótese mais provável é a má posição in utero que provoca isquemia circunscrita do músculo ECOM;
- Tocotraumatismo (parto com apresentação pélvica);
- Alguns estudos apontam relação com outras má formações (pé torto e luxação congênita de quadril).

Anatomia Patológica:- Através de resultados obtidos em autópsias realizadas em RN de 2 dias Sanerkin e Edwards (1966) descreveram o músculo acometido com hemorragia, ruptura e fragmentação de fibras musculares, necrose de algumas fibras e lesões das bainhas do endomísio.
Anatomia do Ecom : Origem - Wikipédia, a enciclopédia livre.O esternocleidomastoideu (no Brasil esternocleidomastóideo), em latim, Sternocleidusmastoideus, é um músculo da face lateral do pescoço, na região anterolateral. É o principal flexor do pescoço. Largo e robusto, é constituído, no tramo torácico, por duas cabeças: a esternal e a clavicular.
É inervado pelo nervo espinal, nervo CXI.
Este músculo permite três acções diferentes: a rotação da cabeça para o lado contrário, a inclinação lateral, e uma leve extensão da cabeça.

Diagnóstico Diferencial:- Linfadenite séptica profunda;
- Anomalias de natureza ortopédica (luxação da articulação atlantoaxial, hemivértebra congênita;
- Defeitos na visão (diplopia devido ao estrabismo - visão dupla é a percepção de duas imagens a partir de um único objeto);
- Na Plagiocefalia, pode haver postura assimétrica do crânio sem contratura do ECOM;
- A assimetria também pode surgir por influência do Reflexo Tônico Cervical Assimétrico, caracterizando lesão cerebral se persistente além do período esperado.

Prognóstico:
- Correção precoce (1º ano de vida) diminui o tempo de tratamento podendo ocorrer em até 12 meses;
- Casos de acometimento moderado a fisioterapia é fundamental, sendo que em casos severos a indicação de correção cirurgica é necessária;
- Em casos onde a contratura persiste a cirurgia é indicada (tenotomia do ECOM e ressecção do tecido fibroso adjacente);

Avaliação:
- Inspeção geral – anotar a postura adotada – compensações expressadas no eixo axial;
- Palpação – verificar a presença do nódulo em ECOM;
- Verificar ADM do pescoço – Passivo + ativo – Goniometria com o Gon. De Myron ou Inclinômetro;


- Avaliar de suavemente para evitar dor durante mobilização passiva ou palpação do ECOM;
- Avaliar assimetria facial e craniana com a cabeça em posição neutra;
- Verificar possível atraso no desenvolvimento da criança, atividade reflexa (reflexos assimétricos de moro ou RTCA);
- Em caso de dúvida quanto o diagnóstico inicial encaminhar ao médico para exame mais detalhado (ver diagnóstico diferencial);

Objetivos de Tratamento:
- Estabelecer relação terapeuta x paciente x terapêutica;
- Aumentar arco de movimento para região cervical (inclinação para o lado oposto ao ECOM acometido e rotação para o mesmo lado);
- Incentivar mobilização ativa da cervical através de atividades lúdicas usando as reações de retificação e endireitamento como contribuintes (rolar);
- Fortalecer músculos contralaterais (adequar equilíbrio sinérgico);
- Otimizar o desenvolvimento da criança (mesmo não havendo atraso nas etapas);
- Orientar família a adotar técnicas de manuseio e pocisionamento que favoreçam o alongamento do ECOM;

Condutas de Tratamento:
- Massagem flexibilizante + termoterapia (compressa de água morna);
- Alongamento passivo dos músculos: ECOM, trapézio superior no lado envolvido, miofáscia adjacente;
- Cinesioterapia Ativa através de estímulos lúdicos;
- Orientação domiciliar.

- Manobras:
- O paciente é colocado em decúbito dorsal sobre um colchão, com o lado normal da face voltada para o fisioterapeuta;
- Este está sentado diante da maca ou tatame, segurando as pernas e o tronco do bebê debaixo do braço;
- Uma de suas mãos segura o ombro, de modo a fixar a inserção esternoclavicular do ECOM e permitir o alongamento deste músculo através da flexão lateral da cabeça. A outra não segura a cabeça do bebê (convém ter o cuidado de não comprimir o ouvido), impondo-lhe a maior flexão lateral possível.

Figura retirada do Livro: Fisioterapia em Pediatria – R. B. Shepherd

- A manobra deve ser repetida por pelo menos 3 vezes e com uma manutenção de 30 segundos em cada aplicação, o recurso termoterápico pode auxiliar no ganho da manobra;
- Em seguida podemos fazer com rotação da cabeça que pode ser incentivada pela mamãe estando ao lado do músculo contraturado;


Figura retirada do Livro: Fisioterapia em Pediatria – R. B. Shepherd

- Podemos também combinar o movimento de rotação + flexão lateral e extensão, que em crianças com nódulo volumoso no ECOM pode ser desconfortável;

Precauções:
- Evitar movimentos bruscos entre a cabeça e a cintura escapular, isso pode gerar uma lesão no plexo braquial;
- Nunca force o alongamento e respeite a criança;
- As sessões de alongamento podem ser repetidas várias vezes ao dia.

Orientações Domiciliares:
- Explicar de maneira clara o que é o torcicolo, procurando esclarecer possíveis dúvidas;
- Nunca afirme um prognóstico sem certeza de que ele se confirmará;
- Explique de forma prática a “biomecânica” do alongamento, os movimentos bons que a criança deverá ser estimulada;
- Verificar a cada sessão como estão sendo feitas as manobras em casa para possíveis correções;
- Caso as manobras passivas em casa sejam difíceis de serem realizadas (por falta de compreensão ou medo) sugere-se apenas os exercícios ativos através de atividades lúdicas;
- Pais excessivamente zelosos podem exagerar nos alongamentos causando repulsa ao toque na região afetada pela criança;
- Os alongamentos em casa devem ser realizados em ambiente propício para a interação da criança com a técnica, com música, brinquedos, e estímulos ambientais como móbiles que reflitam luminosidade ou sons acima da cabeça, sendo estes direcionados em posição que favoreça o alongamento;
- Durante a amamentação podemos estimular a rotação da cabeça desde que não haja desconforto para a criança;
- Podemos posturar a criança no colo de modo que favoreça o alongamento:


- Segura-se o bebê em frente ao espelho com a hemiface normal voltada para cima;
- Ombro e cabeça devem ser segurados conforme exige o método anterior, só que agora é o próprio peso do bebê que irá alongar o músculo;
- O espelho serve para que o bebê perceba a si mesmo, ou se for muito novo para tanto pode chamar sua atenção pelos movimentos refletidos no espelho, e para a mamãe serve para verificar sua posição de alongamento e corrigir posicionamento inadequado;
- É interessante colocar o berço em uma posição estratégica de forma que esteja de um lado a parede (lado facial normal) e do outro o espaço (lado facial comprometido), que deve ser ambientado com estímulos no teto (fitas de alumínio, móbiles sonoros e colorido, etc).

Referências Bibliográficas:
- POUNTNEY, Teresa. Fisioterapia Pediátrica. Rio de Janeiro. Elsevier, 2008.
- SHEPHERD, R. B. Fisioterapia em pediatria. São Paulo: Santos, 2006.
- TECKLIN, Jan Stephen. Fisioterapia Pediátrica. Porto Alegre: Artmed, 2006.

Um comentário:

  1. olá! tenho 19 anos, fiz uma correção cirúrgica aos 5 anos e passei também por um tratamento fisioterapêutico, porem percebo que existe uma assimetria não apenas no pescoço mas parte do corpo, isso não me prejudica em nada.. gostaria de saber se devo continuar fazendo exercícios?

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